A Princesa e o Sapo

Um amigo é uma das coisas mais legais que você pode ter, e uma das melhores coisas que você pode ser.

Alguns anos atrás, nossa família se expandiu para incluir um Husky siberiano de um ano de idade, chamada Princesa Misha. Como todo Husky siberiano, Misha tinha um amor inato pelo ar livre, e claro, quanto mais frio, melhor. Ela se deitava em cima de um monte de neve no mais frio dos dias de inverno e agitava sua cauda sobre seu único ponto vulnerável… o nariz. Quando a neve fresca caía, ela ficava tão imóvel que logo desaparecia sob um manto de neve e se tornava parte da paisagem. De vez em quando, ela se levantava, sacudia, virava-se em círculos, e depois voltava a se deitar novamente para vigiar seu domínio.

Nos dias quentes de verão, ela encontrava um canto mais fresco na casa e passava os dias ali, dormindo. Depois de seu passeio noturno, ela passava o restante da noite, estirada no cimento geladinho do pátio da frente. Durante todos os verões e outonos, este era o seu ritual noturno.

Uma noite de verão, enquanto estávamos sentados no pátio, curtindo a brisa da noite, vimos um pequeno sapo pular da grama e seguir pela calçada a alguns metros de distância de onde Misha estava deitada. De repente, Misha se levantou, foi em direção ao sapo, pegou-o em sua boca, fez o caminho de volta para seu lugar de descanso e deitou-se. Em seguida, ela apoiou o queixo na pata dianteira, abriu a boca e deixou o sapo pular para fora, enquanto ela o observava com espanto. O sapo sentou-se diante dos olhos de Misha, os dois parecendo olhar um para o outro por algum tempo. Depois o sapo pulou de volta para a grama.

Em outras noites naquele verão, notamos esse mesmo ritual. Nós comentamos sobre o fato de que Misha parecia ter um apreço por sapos. Ficamos preocupados, porque alguns sapos podem ser venenosos, mas como ela nunca ficou doente e nunca machucou nenhum dos sapos, decidimos não interferir. Se ela avistava um sapo na rua, em um de seus passeios, ela corria atrás dele e o empurrava com o nariz até que ele pulasse de volta para a segurança da grama, fora do caminho perigoso.

No verão seguinte foi a mesma coisa. Misha gostava de se refrescar, deitando-se no pátio da frente depois que anoitecia. Muitas vezes, percebíamos um sapo a poucos centímetros da cabeça dela. Em outras ocasiões, víamos quando ela ia para a grama e voltava para seu lugar de descanso com um sapo na boca, apenas para soltá-lo depois. Os sapos sempre ficavam perto dela por algum tempo antes de pular para a escuridão da noite. A única diferença em relação ao verão anterior foi que ela passou mais noites dessa maneira, e os sapos estavam maiores. Um sapo parecia estar sempre à mão.

Uma noite, no início do terceiro verão, depois de permitir que Misha saísse lá fora, vimos quando um enorme sapo pulou da grama e foi até onde ela estava, parando a poucos centímetros dela. Misha abaixou suavemente a cabeça, de modo que seu nariz quase tocou no sapo. Foi quando finalmente nos ocorreu que… talvez houvesse apenas um sapo! Misha poderia ter compartilhado os últimos três verões com o mesmo sapo? Chamamos um especialista em vida selvagem local, que nos disse que os sapos podem viver de três a seis anos, de maneira que aquilo era perfeitamente possível. De alguma forma, aqueles dois improváveis companheiros tinham formado um vínculo. No início, aquilo nos pareceu muito estranho. Mas então percebemos que também éramos muito diferentes de Misha, mas o amor que havia entre nós parecia completamente natural. Se ela podia nos amar, por que não um sapo?

Misha precisou passar por uma pequena operação naquele verão, e nós a mantivemos dentro de casa por algum tempo para que ela se recuparasse. Toda noite, ela ia até a porta da frente e nos pedia para que a deixasse sair, mas não podíamos deixá-la. Em vez disso, guia na mão, nós a levávamos para fazer curtas caminhadas. Uma noite, poucos dias depois, eu fui até a porta da frente a fim de ligar a luz da varanda para os hóspedes que estávamos esperando. Quando a luz se acendeu, iluminando a varanda da frente, lá estava, para minha total surpresa, o Sapo sentado (este era o nome que demos a ele), olhando para mim através da tela da porta! Ele tinha pulado os três degraus do pátio, e supomos que ele estava à procura de Misha. Tal devoção não poderia ser negada. Deixamos que Misha se encontrasse com seu amigo. Ela imediatamente pegou o sapo em sua boca e desceu os degraus, onde ela e Sapo ficaram cara a cara até que a levamos para dentro novamente, tarde da noite. Depois disso, se Misha demorava a sair, Sapo frequentemente vinha até a porta para buscá-la. Assim, passamos a acender a luz da varanda antes de escurecer e colocamos um grande cartaz na varanda : “Por favor, não pise no sapo”.

Muitas vezes, nós rimos daquela amizade tão incongruente… eles davam um espetáculo cômico, olhando nos olhos um do outro. Mas a devoção de ambos, por vezes fez com que me perguntasse se eu deveria considerá-la tão levianamente. Talvez aquilo fosse mais do que uma simples amizade. Talvez em seu fiel sapo, Princesa Misha tivesse encontrado o seu príncipe encantado.